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Uma das principais e mais complicadas transformações provocadas pela separação de um casal é reestruturar a relação com as pessoas que faziam parte, até então, da vida dos dois. O relacionamento acaba, mas nem sempre o carinho pelos parentes dele ou o afeto pelos amigos dela também chega ao fim. Uma coisa, porém, é conservar os mesmos sentimentos. Outra, bem diferente, é conseguir dar continuidade ao relacionamento com os familiares e a turma do "ex" ou da "ex" numa boa.
A não ser que exista algo em comum que os una na rotina – o fato de trabalharem ou estudarem juntos ou serem vizinhos, por exemplo – o rompimento, invariavelmente, muda a dinâmica da amizade. Mas ela pode ser mantida, sim, sem problemas, segundo especialistas.
"Tudo depende, na maior parte das vezes, de alguns fatores, como os motivos que levaram o casal a se separar, de quem foi a decisão, dos sentimentos de cada um e, sobretudo, da forma como era o relacionamento com a família e com os amigos do outro antes da separação", explica a psicóloga Miriam Barros.
Em relação à família, a situação é um pouco mais delicada. No entanto, um bom relacionamento pode e deve ser mantido, principalmente se durante o casamento ele era estreito. Não com a mesma intensidade, mas com respeito e uma proximidade que não incomodem nenhuma das pessoas envolvidas.
A psicopedagoga Eliana de Barros Santos diz que, quando o casal tem filhos, a relação com os familiares deve ser alimentada até mesmo para facilitar o convívio com a criança ou o jovem. "Os laços familiares são importantes para o desenvolvimento e podem ser bem explorados com o objetivo de formar os filhos com fortes valores e ética. Essa pode ser, por exemplo, uma boa oportunidade para trabalhar com os filhos a questão das diferenças nos costumes", diz Eliana.
Emoções sob controle
Assim que acontece o rompimento, é normal que os sentimentos fiquem meio tumultuados. Com o passar do tempo, porém, as emoções se acomodam e o convívio pode ser mais tranquilo, tornando possíveis as visitas pontuais que não causarão desconfortos a ninguém.
É preciso respeitar o tempo de todos (ex-parceiros, amigos e familiares), sem deixar de falar sobre seus sentimentos. Se você tem afinidade com o ex-sogro ou com a ex-cunhada, por que não dizer a eles que o rompimento em nada muda o que sente? Explique que um certo afastamento será natural, mas deixe claro seu afeto e diga que eles podem contar com você para o que precisarem.
A amizade deve atingir um ponto de equilíbrio. Pode ser que telefonar apenas no aniversário ou no Natal pareça pouco, mas ligar ou fazer uma visita toda semana corre o risco de ultrapassar o limite do bom senso. E isso vale para os dois lados, pois não são raras as circunstâncias em que a "ex-família" é quem faz questão de manter a boa convivência, mesmo que não seja bem-vinda.
Na opinião de Miriam Barros, é essencial respeitar a si mesmo e ao outro. "Perceba se o fato de continuar a falar com aquelas pessoas causa algum constrangimento ou sofrimento em você. Se isso acontecer, é melhor se afastar. Em relação ao 'ex', também é importante notar se sua presença fere, incomoda, causa raiva ou esperança de retorno", fala a psicóloga. Exercite a sensibilidade para perceber quando as atitudes são exageradas e invasivas. Para Eliana, uma boa ferramenta para descobrir isso é refletir sobre os seus reais objetivos com a aproximação. "Se você está precisando muito manter a amizade, questione os motivos. Se está evitando muito a amizade, questione também", diz.
Lembre-se: aquela família não é mais sua e você deve agir com cautela para não se tornar inconveniente.
Espere o convite para uma visita, ligue eventualmente e preste atenção nos assuntos que serão abordados na conversa. "Mas se determinada pessoa não te procurou, mesmo que para lamentar a separação e desejar boa sorte na nova fase, ou se você ligou para alguém e não sentiu muita receptividade, entenda como sinais de que esse relacionamento também chegou ao fim. Não insista, siga em frente", afirma a consultora de etiqueta Célia Leão.
Novas regras de convivência devem ser construídas aos poucos e precisam mais uma vez passar por uma adaptação quando o ex-parceiro ou ex-parceira inicia um novo relacionamento. A psicóloga Maria de Melo, autora do recém-lançado "A Coragem de Crescer – Sonhos e Histórias para Novos Caminhos" (Ed. Ágora), afirma que esse é um momento em que, geralmente, surge uma outra crise.
"É quando a separação se concretiza. E é complexo. Mesmo que você não goste mais da pessoa com quem teve um relacionamento amoroso, pode existir uma fantasia inconsciente de que aquele lugar seria sempre seu", declara. É uma fase que exige, novamente, desenvolver o desapego. Por isso, é fundamental analisar bem quais são as motivações por trás da amizade com os parentes ou amigos do "ex" antes de investir nela. É mesmo por afeto ou apenas uma maneira de não se desligar da vida de alguém que foi muito importante?
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